As Bruxas na Umbanda
- Salamandra Mística
- 30 de out. de 2024
- 7 min de leitura
A bruxa é uma figura que incendeia o imaginário popular. Principalmente em países com raízes cristãs, como o Brasil, onde as lendas e histórias misturam o real e a imaginação. Ao ponto que nós nunca sabemos aquilo que podemos, ou não, acreditar.
Mas, ela não é apenas uma figura cultural. Ela carrega em si toda uma simbologia que une a mulher (o feminino) e a magia, um arquétipo da liberdade e da sabedoria ancestral, que corre em nossas veias (sendo homens ou mulheres).
Inclusive em aspectos religiosos.
Nos últimos tempos, vemos em religiões com manifestação mediúnica (como a umbanda), a aparição cada vez mais frequente de espíritos que se denominam dessa forma. Nesse post, eu quero te falar um pouco mais a respeito disso e abordar também aspectos dessa linha que são independente de religiosidade, para que esse conhecimento sobre a ancestralidade sagrada seja passado a diante.
Primeiro, vamos falar da umbanda?
A Umbanda e sua importância sociocultural
A Umbanda é uma religião de matriz africana que foi consolidada por Zélio Fernandino de Moraes. Por que usei a palavra consolidada? Porque antes disso já existiam cultos que se assemelhavam ao que hoje conhecemos como Umbanda, já existia a manifestação de pretos-velhos, caboclos,etc... Zélio, deu um nome e a consolidou, popularizou, por assim dizer.
Com isso, vemos que além de uma religião a Umbanda é uma expressão social do povo brasileiro, onde toda a religiosidade é fundamentada na identidade brasileira. Assim, vemos caboclos, pretos-velhos, crianças, boiadeiros.... Enfim.
O fato é que além de todas as questões sociais e culturais envolvidas, a Umbanda (e religiões semelhantes) também tem uma função espiritual bem definida. Ela supre uma lacuna (que inclusive está presente em outras religiões), de orientação espiritual com base em uma realidade atual, ou seja, que aborda nossa humanidade. Inclusive, após o desencarne.
É muito comum encontrar pregações (sem citar visões específicas) que sejam "Manual de Instruções de como se viver", mas que não envolvam completamente todas as dúvidas e todas as nuances de Ser Humano no Século XXI, inclusive após a morte. Afinal, vivemos em uma época como jamais foi imaginada. A Era da Informação. Isso tornou o mundo, de certa forma, menor. O conhecimento amplamente divulgado permitiu que cada pessoa pudesse criar sua própria verdade. Diferente de antigamente, onde as exceções de ideais eram escassas e cada pessoa aceitava e tomava como verdade o que um sacerdote religioso dizia. Não existia espaço para dúvida.
Então, resumidamente, religiões que trabalham a espiritualidade, como a Umbanda dá suporte para nossa alma humana, encarnada ou desencarnada, por isso, dá voz a espíritos que querem compartilhar seus conhecimentos e ensinamentos conosco e assim, ambos evoluem (entidade e médium/consulente). Eu falo isso não como umbandista (até porque não sou), mas como uma estudiosa da espiritualidade que perdeu horas sentada durante giras conversando com caboclos, boiadeiros, exús, pombagiras, é claro, bruxas em minha época de cambone.
As informações que eu vou trazer (e trouxe) aqui não foram obtidas só de livros, mas sim, da experiência. Portanto, esse texto acolhe e compreende todas as doutrinas e se no seu terreiro a linha das bruxas, que é nosso tema, não for bem-vinda, tudo bem! Você está seguindo o seu fundamento e ele é completamente respeitado nesse espaço. Portanto, quero pedir igual respeito.
Mas, voltamos para a Umbanda. Com todos os aspectos narrados anteriormente, percebemos que essa religião carrega simbologias muito fortes, que são típicas do povo brasileiro. O Caboclo, com sua coragem. A criança, com sua alegria e doçura. O Preto-Velho, com suas mandingas e sabedoria... E também, pouco a pouco, ela deu voz para outros espíritos e outras egrégoras que hoje, inclusive, atuam de forma independente dela. Um exemplo disso é a linha de trabalhos dos Ciganos, que são vistos não só nas giras de terreiros, mas em Tsaras (que cultuam especificamente essa linhagem espiritual). Antes, só existia linha de caboclo, preto-velho, criança, exú e pomba-gira. Hoje, temos boiadeiros, marinheiros, baianos, ciganos, cangaçeiros, váaariaaaas outras linhas de trabalho espiritual que vem em terra para passar seus ensinamentos. Dentre elas, as bruxas ou a chamada Linha da Magia.
E por sinal, chegou a hora de falar sobre elas
O que são as bruxas?
A grosso modo, bruxa é uma praticante de bruxaria, um tipo de ofício magístico. Okay, essa é uma explicação minúscula que tem muito mais relação com o que entendemos hoje sobre essa figura.
Mas, quando olhamos em um contexto histórico, bruxas podem ser:
Curandeiras
Mulheres com conhecimentos magísticos independente de religião ou nacionalidade
Feiticeiras
Sacerdotisas (em uma época de perseguição religiosa)
Estudiosas (como cientistas, por exemplo).
Ou qualquer mulher com um comportamento transgressor que vá além das amarras que a sociedade impôs, independente de qual seja. Em outras palavras, que viva sua essência feminina livremente.
A figura da mulher é, de fato, tema central da palavra Bruxa (e também essencial.). Mas, percebe a abrangência dessa palavra?
O Feminino e a energia feminina, com toda sua dor, sua cura, seus traumas e suas rebeldias é abrangido nessa terminologia. Por isso, dentro da Umbanda (com toda aquela força sociocultural) as bruxas sempre existiram.
Maria Mulambo, por exemplo, é uma pombagira bruxa. Temos também as cacurucais e outras figuras importantíssimas que carregam essa magia em si e já estavam presentes na religião.
Então, qual a utilidade de uma nova linha? Por que temos, de forma cada vez mais popular, a presença de bruxas, magos e xamãs em terra?
A minha resposta para essa questão, é a seguinte: porque nós precisamos. Sim, os encarnados precisam dar voz ao que elas representam, ao que a linha das bruxas/magia representa: a transmutação, a capacidade de transformar a nós mesmos e evoluir.
A linha, majoritariamente, é representada pela cor lilás, que é a cor da magia e da transmutação. Inclusive, já falei por aqui que, para mim, a magia tem o dom de alterar também a nos mesmos. Ou seja, transformar nossos maus hábitos, evoluir.
E mais: a linha das bruxas também é o caminho do meio. Elas não são oriundas da umbanda, mas encontraram em algumas dessa religião um espaço para se expressar, pra passar seus ensinamentos e com isso transitam tanto na direita, quanto na esquerda. Uma vibração dual que consegue transitar de um campo para o outro, assim como a magia.
Em um mundo tão polarizado, tão dividido, precisamos cada dia mais ouvir, ter paciência, conosco e com o próximo. Ensinamentos que elas nos ensinam, tão bem.
Além disso, precisamos falar sobre a Energia Feminina. Longe dessa galera Good Vibes que enfia Feminino e Masculino como sinônimo de "homem" e "mulher" e dos respectivos papéis sociais, as bruxas (e todos os guias homens ou mulheres que se apresentam nessa linha) trazem a cura e a libertação do Feminino que por muitos anos (séculos, milênios) foi menosprezado e inferiorizado.
Portanto, a cura, o perdão e o acolhimento que esses guias trazem reverbera em nós de uma forma intensa e profunda. Independente se você é homem ou mulher, todos nós temos esse princípio gerador em nós mesmos e naqueles que vieram antes de nós.
Características da Linha das Bruxas na Umbanda (ou linha da Magia)
Dentro da Umbanda, elas têm comportamentos mais parecidos. Porém, não iguais, Eles variam, afinal, não é toda pombagira que coloca a saia no ombro ou caboclo que grita no chão. Cada um representando sua respectiva falange.
É interessante que na linha das bruxas vejo as falanges mais como a ancestralidade que ela carrega e representa. Algumas, vão cair no chão e rir algo, como o esteriótipo de uma Bruxa Europeia.
Outras, fazem uma carranca (como a de um caboclo, por exemplo) e se assemelham a grandes curandeiras ou sacerdotisas que dominam as plantas e a magia natural.
Geralmente, na esquerda trabalham sob as cores roxo e preto. Na direita, trabalham sob o lilás. Já as bebidas o mais comum é água, sucos naturais, chás, espumante incolor (Maçã/Uva). Alimentos são geralmente naturais como frutas (preferencialmente maçã), pães naturais e alimentos caseiros (preparados pelas mãos do médium).
Só existe linha das bruxas na Umbanda?
Existem linhas de trabalho espirituais que são independentes da umbanda e se apresentam em outras egrégoras e práticas. Como os Ciganos que eu já citei por aqui.
E a linha das Bruxas (ou Linha da Magia) é uma delas e inclusive, foi a presença de uma em minha coroa que me fez estreitar relação com essa linha.
Quando comecei a fazer parte de um terreiro, como cambone, eu já praticava magia e já tinha minhas crenças politeístas. Por ser um local pequeno, um "terreiro de vó", como alguns chamam, em vários momentos a gira era aberta sem consulente algum. Isso foi um grande privilégio que me permitiu aprender sobre Umbanda pela voz dos próprios espíritos.
Foi pelas broncas da Dona Padilha, 7 Saias e seu Tranca Ruas que eu aprendi a me defender, a não abaixar a cabeça. Foi pelo carinho do seu Cobra Coral e dos aconselhamentos dele que aprendi a respeitar meus próprios momentos e minha própria fé.
E foi nesse mesmo espaço que conheci a Linha das Bruxas. Através da Natasha Morgana. Ela veio sussurrando, ainda se acostumando com o falar, se expressar. Já que em outros momentos ela só trabalhava a própria médium. Mas, logo se soltou e teve muito a ensinar. Naquele dia, descobri a presença da bruxa em minha coroa e que pouco a pouco ela se tornaria mais evidente.
E em todas essas experiências, elas me acolheram, me cuidaram e me ensinaram, assim como fazer com todos que confiam nessa vibração tão poderosa, dentro ou fora da Umbanda.
A fé, a crença e a confiança são aquilo que movem a conexão com as Bruxas Ancestrais, as Senhoras da Magia, as Anciãs Sagradas e a essas guias tão incríveis. <3
Se você terminou esse texto até aqui e sentiu seu coração se empolgar, sentiu um chamado dentro de si, quem sabe você não tem uma guia dessa linha, clamando para te conhecer?
Esse texto é apenas uma pequena homenagem,
uma forma de tentar dar voz aos espíritos que por
muito tempo foram silenciados.
Eu espero ter cumprido meu papel.
Minha Gratidão Eterna:
Senhora Natasha Morgana
Dona Cacurucaia
Mãe Sarena
e tantas outras bruxas espirituais que cruzaram meu caminho.
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